O populismo de Tropa 2

Saí de Tropa de Elite 2 convencido de que assistira a um grande filme. Quanto mais eu penso, minha empolgação diminui.É um filme bom, um grande thriller. Tem cenas de ação, ótimos atores — Wagner Moura é um grande destaque mas não é o único — e você pode entrar no cinema certo de que irá ficar de olho preso na tela do primeiro ao último minuto.Vai dar risada em cenas de humor e também irá sentir-se horrorizado em situações de uma violência macabra. Com a direção de José Patilha, que sabe contar uma história, a narrativa avança e recua num roteiro bem construído.

Mas Tropa 2 quer fazer um discurso político sobre o Brasil e aí o filme se perde num universo ideológico antigo, numa indignação cuja raiz lembra o populismo janista que dominou o conservadorismo civil brasileiro nos anos anteriores ao golpe de 64.A base do discurso janista — muito diferente da prática, por sinal — era uma visão moralista da política, como se fosse um um mundo sem conflitos sociais nem interesses materiais.Havia um político honesto — o próprio Janio — em luta contra os demais. Não por acaso, sua idéia era passar uma vassoura na política brasileira, cujo símbolo maior era o desenvolvimentismo de JK, seu maior adversário e alvo político.

A idéia de Tropa 2 é que o Estado não presta, os políticos são todos corruptos, a imprensa está comprometida com interesses obscuros, as eleições são fruto da roubalheira e a polícia deveria acabar. É um visão com muitos elementos verdadeiros, mas parcial e simplificadora.Todos nós sabemos os problemas, carências e vícios do Estado brasileiro. Mas Tropa 2 erra no tom.“A PM deveria ser extinta,” diz o coronel Nascimento (ele foi promovido, entre um filme e outro). Não dá para entender.

Na cena final, Tropa 2 mostra imagens de Brasilia e da Esplanada dos Ministérios. Fica a sugestão de que o país inteiro está dominado por aquilo que o filme chama de “sistema,” organismo definido numa cena como “articulação de interesses escrotos”. Quem são os vilões? Os políticos. Por que eles roubam? Para conseguir votos. É fácil entender o CQD desta equação, não é? Compreensivelmente, o personagem positivo do filme é um herói quase utópico, à beira do inviável: um professor de história que se torna combatente pelos direitos humanos e por fim vira deputado estadual por um partido chamado PSOU (você entendeu: é o PSOL e o personagem foi inteiramente inspirado num parlamentar da sigla que foi um dos candidatos mais votados do Rio de Janeiro em 2010).

Nos debates do Tropa 1, Padilha disse que enfocava a violência de um ponto de vista que não era marxista nem neo-liberal. Em Tropa 2 o discurso político é uma revolta pelo fim do Estado. É como se não houvesse classes sociais, nem interesses mais amplos em choque. Não há política — apenas uma guerra de quadrilhas.

Aquele regime que temos no Brasil é descrito como uma usina de bandidos, ocupados apenas em enriquecer ilicitamente, enganar o povo e eliminar os adversários, à bala, se for necessário. Nós sabemos que a corrupção existe, basta abrir os jornais para saber dos males que provoca mas não é possível confundir as coisas. Como dizia o conservador Winston Churchill a democracia é o pior dos regimes do mundo — com exceção de todos os outros.

Autor: Paulo Moreira Leite

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Família no Texas leva susto ao encontrar crocodilo na piscina

Homenagem a Henrique Valladares