Quando as mulheres dizem não

Ótima! Aproveite e boa leitura...

Outro dia, durante um jantar, um amigo inclinou-se sobre a mesa e fez cara de quem iria me contar um segredo:

- Depois dos 55 anos - ele disse - você não come mais todas as mulheres que deseja.


Eu pisquei de surpresa com a frase inesperada, sorri para ganhar algum tempo e respondi com o espírito que a situação demandava:


- Ok, então me dê licença que eu só tenho mais cinco anos e preciso aproveitar!


Rimos vigorosamente, como os homens costumam fazer para espantar a intimidade, e logo depois ele foi embora, sem explicar sua solene conclusão. Saiu, mas me deixou com a sensação de que eu sou um azarado. Desde os 13 anos de idade eu escuto “não”, enquanto ele só descobriu aos 55 o que é ser rejeitado pelas mulheres...


Aproveito essa história verídica e recente para falar sobre o “não”, palavra onipresente na vida masculina.


Primeiro é a sua mãe, que balança aquele dedinho proibitivo na frente dos seus olhos desde antes que você tenha dentes.Depois, quando você começa a tentar morder, é a vez da prima ou da vizinha dizer “não, pára com isso!” Eventualmente você cresce, chega à adolescência, e têm início aquelas tentativas canhestras de beijar, apalpar e namorar as garotas. Não, não e não, dizem elas – um som intercalado, de vez em quando, por um “sim” qualificado, restrito e fugidio, que pode tornar-se “não” com enorme facilidade.


É duro, meninas.


Vocês não têm ideia das cicatrizes invisíveis que marcam o ego masculino, mais riscado que as costas das baleias e mil vezes batido pela recusa das mulheres.


Conheci um sedutor famoso e bem-sucedido que costumava repetir um bordão para explicar sua ousadia. “O não eu já tenho”, ele dizia, “qualquer outra coisa é lucro.”


Nunca consegui concordar com ele.


Um homem tem de ter ego de aço para lidar de alma leve com a rejeição. Em gente normal o “não” machuca, embaraça, marca. Você se expõe, é recusado e sofre instantaneamente. Para quem é tímido e orgulhoso, pior: o “não” provoca um calor de vergonha no rosto, seguido de enorme mal estar. É uma espécie física e mental de desconforto que cresce ao redor do repelido. Se o bom-senso fosse um componente frequente do caráter humano, os primeiros sinais dessa débâcle psíquica deveriam ser suficientes para causar a retirada. Mas não. Em vez de encerrar a conversa, o Homo Erectus insiste, ouve “nãos” cada vez mais peremptórios (seguidos por explicações sempre mais francas e didáticas) e acaba por tornar degradante uma situação que era apenas patética. O resultado é moralmente desastroso.


Há várias formas de dizer não, mas uma única forma de ouvir – com pena de si mesmo e às vezes com raiva. Minha experiência sugere que, por mais gentil que seja a recusa, ela sempre provoca represálias emocionais.


(Se provocar represália física ou agressão verbal, então se trata de chamar a polícia. Valentões sempre passam melhor a noite na companhia de homens ainda mais rudes que eles, na delegacia.)


A forma mais normal de represália masculina, eu acho, é a retirada da atenção. Se não vai ter sexo, madame, então não vai ter mais telefonemas, flertes, risadas e a cascata de elogios que costuma acompanhar o desejo masculino. Justo, não?

Quando a mulher não está interessada em intimidade física, sair com um sujeito interessante sem terminar na cama dele pode ser o melhor programa do mundo. Afinal, o homem empenhado em seduzir é normalmente charmoso e solícito. Dá uma ótima companhia. Ela, que não queria sexo, extrai da ocasião tudo o que desejava. Mas ele, que queria sexo acima de tudo, termina a noite de mãos vazias. Não é uma troca equilibrada.

Às vezes, por trás da sugestão de “ser apenas amigo”, existe um pedido não verbalizado (e nem necessariamente consciente) de que você continue oferecendo atenção e companhia, mas abra mão do acesso ao corpo dela. Escolha se isso que você quer.


Claro, pode-se sair uma ou duas vezes com uma fêmea relutante como parte do ritual de cortejo. Mas, uma vez que fique claro que ela não está interessada, dignidade e sensatez recomendam cair fora.


Um homem confuso pode alegar, com alguma razão, que frequentemente as mulheres emitem sinais ambíguos. Recusam os nossos convites, mas parecem estar deixando uma porta aberta para aceitá-los. Essas situações são exasperantes e costumam deixar os homens frustrados e cativos.


Nesses casos, eu recomendo romper o círculo da dependência. Se a criatura está verdadeiramente indecisa, ou se manipula conscientemente o desejo masculino, de qualquer forma é melhor deixá-la sozinha para pensar. Diga não à sedução histérica. Se não funcionar, ao menos permite que você dedique seu curto tempo sobre a Terra a pessoas mais receptivas.


As estatísticas internacionais sugerem que as pessoas não mudam de ideia com freqüência quanto ao desejo. Atração é uma coisa rápida. Ninguém precisa de cinco noites jantando fora ou meses de convívio para descobrir que tem vontade de transar com alguém. Eu pelo menos nunca precisei. E as mulheres com quem eu tive relações bonitas tampouco precisaram. 

 
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)
Fonte: Época

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